Nos últimos anos, temos observado um fenômeno intrigante no cenário cultural: a ascensão das danças urbanas. Embora vibrante e inovadora, essa “febre artística” vem se sobrepondo nas tradições das danças populares, o que tem levantado questões sobre a preservação da cultura e a formação de novos e pseudo coreógrafos.
As danças populares, enraizadas em nossas tradições e histórias, são expressões autênticas da identidade cultural de um povo. Elas carregam consigo narrativas que refletem a vida, os costumes e as lutas de comunidades inteiras. Por outro lado, as danças urbanas, com sua estética contemporânea e influências globais, têm conquistado cada vez mais espaço, especialmente entre os jovens. Essa fusão de estilos pode ser enriquecedora, mas também apresenta desafios significativos.
O Waacking, estilo de dança de rua que surgiu na década de 1970 em Los Angeles como uma expressão de liberdade e empoderamento, recentemente foi incorporado no boi-bumbá. O estilo se caracteriza por movimentos rápidos de braços, poses dramáticas e forte interpretação musical, inspirado pelo glamour do cinema antigo de Hollywood e pela música disco.
Mesmo simbolizando uma troca cultural importante, alguns especialistas da dança apontam para uma possível descaracterização cultura, pois a inclusão dos movimentos pode fazer com que a dança popular perca elementos fundamentais da identidade e história. Outro ponto discutido é que a fusão pode ser interpretada como uma tentativa de modernização forçada, desconsiderando a riqueza dos passos tradicionais. Há, também, a questão das coreografias voltadas para mídia e entretenimento, o que pode desviar a atenção do contexto histórico e social das danças populares.
A questão que levanto é a seguinte: como proceder diante dessa realidade? Primeiramente, é preciso promover um diálogo aberto entre as diferentes vertentes da dança. É fundamental que os novos coreógrafos compreendam a importância de respeitar e valorizar as tradições que moldaram a cultura local. Isso pode ser feito através de workshops, palestras e intercâmbios culturais que abordem a história e os fundamentos das danças populares, permitindo que os coreógrafos se apropriem desse conhecimento e o integrem em suas criações.
É essencial informar e educar os pseudos coreógrafos sobre a responsabilidade que vem com a criação artística. A dança não é apenas uma forma de entretenimento; é uma linguagem que comunica e preserva a cultura. Incentivar a pesquisa e o estudo das raízes culturais pode ajudar esses profissionais a desenvolverem um trabalho mais consciente e respeitoso.
Outra estratégia é a valorização das danças populares em espaços de visibilidade, como a televisão, festivais importantes e na própria competição, já que o ambiente é regido por jovens que precisam entender que a tradição e inovação coexistem e que as danças urbanas se inspirem nas raízes culturais, em vez de substituí-las.
Por fim, é crucial que a comunidade artística se una em torno da preservação da cultura. A colaboração entre dançarinos, coreógrafos, educadores e instituições culturais pode resultar em projetos que celebrem as danças populares, criando um espaço enriquecedor de preservação cultural.
O desafio de equilibrar danças populares e urbanas é uma oportunidade de reflexão e crescimento. Ao educar e informar os novos coreógrafos, podemos garantir que a tradição não seja ferida, mas sim celebrada e revitalizada, permitindo que a dança continue a ser uma poderosa forma de expressão cultural em nosso grandioso Amazonas.
Por Wilson Junior