Entre 2019 e 2024, o grupo criminoso movimentou mais de R$ 20 milhões
A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), por meio do 24° Distrito Integrado de Polícia (DIP), deflagrou nesta terça-feira (07/05), operação que resultou na desarticulação de uma Organização Não Governamental (ONG) denominada Pai Resgatando Vidas, que utilizava vulnerabilidade de moradores de rua adictos para obter doações e vantagens financeiras. Entre 2019 e 2024, o grupo criminoso movimentou mais de R$ 20 milhões.
A operação O Pai tá Off, contou com o apoio dos Departamentos de Polícia Metropolitana (DPM) e do Interior (DPI), e resultou na prisão de Cid Marcos Bastos Reis Maia, 49, líder da organização criminosa, e seu filho, Wilson Garcia Bastos Bisneto, 21. A ação aconteceu no bairro Flores, zona centro-sul de Manaus, e também levou à apreensão de diversos objetos em posse dos suspeitos.
Durante coletiva de imprensa na Delegacia Geral (DG), o delegado-geral adjunto, Guilherme Torres, destacou o êxito da operação e parabenizou os policiais pelo empenho nesse caso.
“Esse tipo de ação é extremamente importante, pois fornece uma resposta concreta à sociedade. Essas pessoas se aproveitavam de situações de vulnerabilidade para obter ganhos financeiros indevidos e vantagens pessoais, desestimulando a ajuda genuína em casos reais de necessidade. Esses criminosos lesavam pessoas de boa-fé, explorando o sofrimento alheio”, enfatizou Torres.
Investigações
Conforme o delegado Marcelo Martins, titular do 24° DIP, as investigações revelaram que os autores criaram a referida ONG com objetivos escusos, utilizando a imagem e a situação de vulnerabilidade de moradores de rua adictos para obter doações e vantagens financeiras. Em vez de serem revertidas em benefício dos vulneráveis, essas verbas eram desviadas para o benefício próprio dos autores.
A ONG tinha sede na avenida Joaquim Nabuco, bairro Centro, zona sul de Manaus, e atuava no município de Iranduba (a 27 quilômetros da capital).
“As investigações tiveram início a partir de diversas denúncias contra indivíduos ligados ao referido projeto social. As denúncias apontavam para a criação de uma espécie de reality show on-line que explorava a vida e o sofrimento de pessoas em situação de vulnerabilidade. Por meio de publicações sequenciais e em grande quantidade de imagens chocantes, os idealizadores do projeto buscavam aumentar o número de seguidores e, consequentemente, obter mais doações”, explicou o delegado;
Ainda segundo a autoridade policial, a apuração revelou a ausência de qualquer tipo de prestação de contas ou elemento de transparência financeira. Diante disso, ficou claro que muito pouco dos recursos doados foram realmente destinados aos beneficiários do projeto. As investigações indicam a prática de crimes, em especial lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
Os bens adquiridos por meio de lavagem de dinheiro e ocultação de bens possuem alto padrão, demonstrando o estilo de vida luxuoso dos principais membros da organização criminosa. Essa ostentação fica evidente em fotos nas quais eles exibem dinheiro, carros e barcos.
Operação
Segundo o delegado, o nome da operação faz referência a expressão “O pai tá On”, utilizada pelo líder do grupo, que se denominava “Pai Marcos Bastos”. No decorrer da investigação, oito mandados de prisão foram decretados pela Justiça para os membros do grupo, composto pela mãe, irmã, sobrinhos e filho adotivo. Todos são da mesma família, mas somente Cid Marcos e Wilson foram presos, os demais estão foragidos e as diligências seguem para capturá-los.
Em uma investigação meticulosa que durou cerca de seis meses, a equipe policial realizou uma análise aprofundada das finanças do grupo e, com base em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), descobriu uma movimentação financeira superior a R$ 20 milhões.
“Diante das provas reunidas, a Justiça decretou a prisão preventiva dos envolvidos, a busca e apreensão de bens e o sequestro de aproximadamente 30 veículos, 4 embarcações e 2 imóveis. Todos esses bens foram obtidos com recursos provenientes da organização criminosa”, detalhou Martins.
Também foram coletados diversos dados importantes, além de duas armas de fogo. Uma decisão judicial determinou o bloqueio das redes sociais utilizadas pela ONG, pois eram utilizadas com má-fé, ou seja, serviam para obter doações de pessoas de outros estados e países, como Bélgica, Alemanha, França e Irlanda, que doaram valores em euros para a organização.
Os autores responderão por organização criminosa, estelionato, maus-tratos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
FOTOS: Beatriz Sampaio/PC-AM